sábado, 28 de abril de 2007

Húmus

O céu vai ficar parado no instante de eternidade das sombras sobre mim. Suspenso na lembrança dos meus cabelos, o único movimento virá dos olhos dos pássaros - estrelas de água em queda sobre o manto de terra no meu caixão.
No dia do meu enterro, a música será o choro dos cães ao longe na certeza da minha ausência. A convulsão das suas lágrimas será por mim, pela suspensão eterna, sempiterna do meu amor. Como uma seta a demorar-se no peito - saudade.
Se tu passares por mim, nesse dia em que o céu ficar parado, leva de mim os meus sonhos guardados no silêncio da espera. Só então poderás ver a derrota que eu levo do mundo por ele não entender
que os animais são almas atadas numa linguagem indizível.
Leva de mim os meus sonhos e grita ao mundo
que os animais são almas atadas em fios de metal
Que eu sozinha não consegui destrinçar.
Grita tanto quanto a minha voz gritou
e desata-os dizendo-os.
Leva também de mim a lembrança dos meus cabelos e do meu sorriso depois do beijo. Mas peço-te, se passares pelo meu caixão no dia do meu enterro, leva de mim os meus sonhos e guarda-os, grita-os, desata-os do medo. Leva os animais todos contigo, leva a fragilidade enternecedora dos animais no peito, que eles chorarão por ti.
E guarda o que sobrou do meu amor em algibeira.
Raquel

1 comentário:

Anónimo disse...

"leva de mim os meus sonhos e guarda-os, grita-os, desata-os do medo" gostei mesmo mesmo muito deste bocadinho =)