sexta-feira, 22 de junho de 2007

Próxima paragem: Entrecampos

- Onde vais?
- Vou para casa.


E as portas são escotilhas a fecharem-se sobre nós. Portas de ferro a caírem como machados sobre as palavras que eu não disse.
Despedida.
Portas de ferro a caírem sobre as palavras como machados que ficaram por dizer.


- Vem comigo.

Raquel

quarta-feira, 13 de junho de 2007

O Fundamental da Intencionalidade

Ontem, no sofá, adormeci no tédio de esperar-te.

E havia o teu cheiro de outros dias na almofada, como uma certeza de que ainda podias chegar a tempo – a tempo de tocares as minhas mãos e eu dar-me inteira por dentro.
Dar-me até conheceres a arquitectura do meu corpo como se fosse a nossa primeira descoberta. Lembras-te da nossa primeira descoberta juntos?

E tentas compreender tanto.

Deixa-te envolver no espaço de um movimento meu, sem pensares.
Não procures palavras: irias chamar-lhe talvez _________ – chamar-lhe apenas _________ (desejo) – até eu te morder a língua e beber do teu sangue, porque a saliva não basta. Irias chamar-lhe, talvez, desejo – até eu te fazer hesitar na dor de te rasgar as certezas todas que trazes nos bolsos das calças, e tu então chamares-lhe apenas _________ – chamares-lhe apenas _________ (amor).

Porque é que tentas compreender tudo?

Podias ter abandonado o som do piano e os livros e os teus pensamentos sobre nós, sobre a minha etimologia e o meu carácter – personalidade – sobre o sabor da separação. Podias ter abandonado o conforto de estares só, contíguo às tuas ideias, na certeza de esperar-te.

O silêncio faz o resto, dizes.
E, no entanto, nada pode fazer nada por nós, se tu não vieres a tempo de tocares as minhas mãos.
Raquel

domingo, 3 de junho de 2007

Porto Per Poeti

Caminho para o porto dos poetas que não escrevem.
Há um porto dos poetas que não escrevem.
Os poetas que não escrevem têm um porto.
O porto dos poetas que não escrevem – para o qual caminho,

[enquanto o vento não mudar de direcção.

E hei-de atracar até a inspiração se dissipar,
Ancorada pela renúncia aos sonhos - até a inspiração se dissipar – a caminho do Sul: na sombra dos pássaros.

Eu sigo o trilho do vento no mar: rota dos poetas que não escrevem.

E hei-de atracar até não sobrar nada.
Ancorada pelo absurdo da existência – até não sobrar nada – volúpia do que ficou depois dos pássaros: ausência.

Caminho para o refúgio dos poetas que não escrevem.
Há um refúgio dos poetas que não escrevem.
Os poetas que não escrevem têm silêncio entre dedos.
O silêncio é o refúgio – para o qual caminho,

[enquanto o vento não mudar de direcção.

Eu sigo o trilho do vento no mar.
Eu sigo o trilho do vento.
No mar.
E juro-te, pela certeza do fim – que hei-de ser alma de capitão.
Raquel