Sabes o que permanece quando o quadro quebra na incerteza da imagem que traduz?
Sabes o que resta quando os lábios não dizem nada?
E quando há mãos atadas por laços que desatam, sabes o que sobra?
Sabes o que fica da corrente salgada nos cabelos quando não há ninguém para os pentear?
Sabes o que subsiste no momento em que já nada subsiste?
Sabes o que fere?
Sabes o que se detém quando rasgas as palavras que folheaste toda a vida?
E se adormeces e não há braços para me segurar, para sustentar o meu peso, para me proteger, sabes o que resta?
Sabes o que sobeja antes e depois do conforto de um gesto?
Sabes o que fica se não estás?
Sabes do grito quando o copo do antídoto se estilhaça no chão?
E sabes do silêncio de não teres voz para gritar?
O que subsiste do grito depois de o silenciares?
E do silêncio depois de o gritares, o que subsiste?
O que permanece depois do amor?
Depois do afecto, o que permanece?
Sabes o que fica se a lâmpada rebenta na noite?
Sabes o que se mantém no instante de me desejares de forma tão transparente?
Na clareza tão explícita de me quereres, sabes o que se mantém?
Sabes o que sobrevive de nós quando digo que o teu significado não passa dos meus lençóis?
Sabes o que dói na mentira?
Sabes o que resta quando o vento apaga as pegadas de um trilho?
E quando as pegadas são a única marca do trilho que te conduz perdido até casa, o que te resta?
Sabes o que perdura no espaço?
E o que sobra da boca rasgada de sorrisos?
O que fica de um olhar?
Sabes o que persiste da ausência?
O que teima na perseverança?
E o que revive indefinidamente no fim, sabes?
O vazio. Sempre o vazio.
Raquel