Não chores,
Esta noite.
Que eu não vou estar, para suster o manto de lágrimas de que te despes sem piedade.
Não chores,
De cada vez que sentes que as paredes desabam sobre o teu corpo,
Porque eu não existo sempre a teu lado para suportar todos os pedaços da queda.
E se o sonho se apaga,
Se há chamas a consumirem-te por dentro,
Se a carne te apodrece até à alma
E os ossos são tudo o que te resta
E se o que te resta não chega,
Não chores.
Que eu não vou estar esta noite para descer a cortina do teu palco sem chão.
Marioneta despida,
Não te lances tão fundo,
Que os meus braços são curtos demais para a inclinação.
E o abismo é tão forte que nos vence.
Não te entregues à corrente.
E não chores, esta noite.
Que eu não vou estar, para te segurar com mãos de espada e escudo.
Porque eu não existo sempre, inteira, a teu lado, para te guiar de cada vez que te perdes no medo.
Porque eu sou sem piedade,
Meu amor.
Raquel