segunda-feira, 12 de março de 2007

Ao lado da minha casa: plátanos.

Céu e plátanos. União crepuscular, penetrante.
Fim da tarde: hora exacta. Último raio de sol que persiste em ficar. Vento seco: folhas que dançam. Porta. Perra. Preta. Porta.
A chaleira. Nas paredes o azulejo azul enegrecido a contar histórias de tempos idos à chaleira ao lume a fumegar. Histórias que o vento trouxe de vidas que um plátano roubou.
Na parede, o relógio. Hora exacta: fim da tarde. O som suspenso sussurrante dos ponteiros. O som suspenso da chaleira, o som sussurante da chaleira, o lume dos ponteiros.
Água. Gotas cansadas, compassadas, a pingar do tanque, que contam histórias de sonhos que um plátano roubou.
E as maçãs, eternas, repousam na fruteira. Ferro forjado fruteira. Vermelhas, tocadas, inteiras. Maçãs com história que contam histórias de amores que um plátano roubou.

Céu e plátanos. União crepuscular, orgásmica.
Tarde do fim: hora fúnebre, indecisa, que me matas. Vento que dança: folhas secas. No lume a chaleira a fumegar. Relógio – horas mortas. A água no tanque a pingar.
E as maçãs: velhas, vis, velhacas maçãs que não cheguei a provar.

Ao lado da minha casa: plátanos.
Uma papoila nasceu.
Raquel

1 comentário:

Graccus disse...

Tinhas razão quando dizias que era uma escrita pesada. É dificil descrever o que senti quando li o texto pela primeira vez... acho que foi algo parecido com uma melancolia angustiante... sensação estranha... um aperto no coração
muito bom =D