terça-feira, 3 de julho de 2007

Corres

Corres.
Eu sei que tu corres.
O som do teu movimento é o ruído pesado dos tacões altos de verniz na madeira oca e moribunda. Como uma ruptura no silêncio abre-se o chão a cada passo teu – através do peso da tua existência toda apoiada nos teus sapatos ocos na madeira de verniz.

Corres.
Eu sei que tu corres porque eu vejo os teus cabelos desenharem figuras geométricas no ar à velocidade do pássaro que desliza agora à frente dos meus olhos. Abrem-se horizontes quando os teus cabelos desenham o pássaro que desliza à velocidade da geometria no ar.

Corres porque o chão trepida por baixo à tua passagem e a respiração é o motor na sequência dos teus movimentos. Mas as nuvens, lá fora, hão-de bloquear-te a saída: aqueles braços não chegam esta noite. O tempo cingiu-se à factualidade do tempo correr enérgico sobre ti.

Corres para os braços partidos.
Partidos pelo peso da geometria da vida.
Da vida existir à velocidade do pássaro moribundo que voou.
Voou no instante de pousar sobre os meus olhos.

Corres – para os braços partidos que não chegam esta noite.
Raquel

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