sábado, 7 de julho de 2007

Encostada ao Tanque, ao Lado da Porta

Correntes de lava no quintal e pétalas de papoila pisadas por pés de prata polida no chão duro de pedra.
E sopra o vento, assobiando de desgosto na tarde que cai.
Do portão para dentro, a existência é o lençol branco estendido no cordão gasto de muitos lençóis – a existência paira no cordão levantado para cima pelo pau alto de levantar lençóis no ar, onde o vento sopra diferente.
No tanque vazio, aquecido pelo sol que se põe, dorme o gato silencioso no momento do sono a roçar a saudade – dorme o gato preto de manchas brancas encolhido no ronronar do tanque de pedra.
E sopra o vento, assobiando de tédio na tarde que cai.
Ao lado da nespereira em flor, traços a tinta de tijolo desenham brincadeiras no chão em jogos de saltos e tranças compridas – há sorrisos pintados no chão do quintal.
A existência é o gato branco de manchas pretas a despertar dentro do tanque de pedra. No tanque seco e arrefecido do sol que se põe na imponência da noite – espreguiça-se o gato na fome.
O lençol bordado à pressa, estendido no cordão velho de outros dias, esvoaça lá em cima, auxiliado pelo pau alto de levantar lençóis no ar – porque o vento o envolve, enleia-se o pano branco com renda branca no cordão de sempre.
Há um canteiro com flores logo à entrada.
E uma bicicleta de passeios por caminhos de ferrugem e pó – encostada ao tanque, ao lado da porta da cozinha. A bicicleta ao lado da porta pequena de madeira colorida por azul céu.
E sopra o vento, assobiando de frio na noite sem estrelas.
Do portão para dentro brotam papoilas entre as fissuras da pedra do chão do quintal, onde o gato desliza.
Nada mais se impõe.
Só correntes de lava e pétalas de papoila pisadas pelos teus pés de prata polida no chão duro de pedra do meu quintal.
Só isso me faz frente.
Raquel

1 comentário:

Anónimo disse...

Um quadro, ao nivel de qq grande obra, de qq grande pintor, só que tu n usas tintas, usas palavras...