«Arrefeceste tanto em tão pouco tempo do tempo que a vida te deu.
E podias ter dito que as nuvens são instantes suspensos no céu, até eu te entender. Podias ter falado da efemeridade. Tê-la aplicado por analogia, talvez. Podias ter escrito sobre isso. Tu sabes que eu devoraria cada palavra tua. Tu sabes isso tão bem, porque é que não escreveste? Podias ter explicado a brisa ao pormenor. A sua trajectória exacta. Brisa: o teu nome sussurrado. Podias ter explicado o teu caminho, até eu te entender.
Eu tinha o mundo para te dizer, Raquel.
Porque é que não falaste comigo?
Arrefeceste tanto em tão pouco tempo do tempo que a vida te deu.
E podias ter dito que as ondas se desfazem na areia, até eu te entender.
Podias ter aberto a porta. Ter-me-ia bastado olhar-te para diagnosticar toda a dor que percorre o teu corpo. Porque é que fugiste? Podias ter sorrido. Tu sabes que eu conheço todos os teus sorrisos de cor. Tu sabes isso tão bem. Porque é que não sorriste, Raquel, até eu entender o significado mais profundo dos teus lábios?
Eu tinha o mundo para te dizer - e uma aliança no bolso.
E o mais efémero instante - desse tempo - tão pouco - que a vida te deu
bastaria.
Eu tinha o mundo para te dizer, Raquel – e palavras ensaiadas na língua.
E o mais efémero instante – desse tempo – tão pouco – que a vida te deu
bastaria.»
E podias ter dito que as nuvens são instantes suspensos no céu, até eu te entender. Podias ter falado da efemeridade. Tê-la aplicado por analogia, talvez. Podias ter escrito sobre isso. Tu sabes que eu devoraria cada palavra tua. Tu sabes isso tão bem, porque é que não escreveste? Podias ter explicado a brisa ao pormenor. A sua trajectória exacta. Brisa: o teu nome sussurrado. Podias ter explicado o teu caminho, até eu te entender.
Eu tinha o mundo para te dizer, Raquel.
Porque é que não falaste comigo?
Arrefeceste tanto em tão pouco tempo do tempo que a vida te deu.
E podias ter dito que as ondas se desfazem na areia, até eu te entender.
Podias ter aberto a porta. Ter-me-ia bastado olhar-te para diagnosticar toda a dor que percorre o teu corpo. Porque é que fugiste? Podias ter sorrido. Tu sabes que eu conheço todos os teus sorrisos de cor. Tu sabes isso tão bem. Porque é que não sorriste, Raquel, até eu entender o significado mais profundo dos teus lábios?
Eu tinha o mundo para te dizer - e uma aliança no bolso.
E o mais efémero instante - desse tempo - tão pouco - que a vida te deu
bastaria.
Eu tinha o mundo para te dizer, Raquel – e palavras ensaiadas na língua.
E o mais efémero instante – desse tempo – tão pouco – que a vida te deu
bastaria.»
Há um precipício na noite.
E abutres.
Abutres à espera de coragem.
Ou desespero.
Abutres à espera de um estímulo.
Um passo.
Há um precipício. Aqui. À minha frente.
Lançar-me
Seria a única forma de entenderes o significado do que não disse.
Porque é que não entendeste tudo aquilo que ficou por dizer?
Eu podia desconstruir o teu amor aqui – agora.
E arrefecer-te.
E quebrar-te.
E desconstruir-te.
Porque há um precipício na noite.
E abutres.
E tanto, em tão pouco, por dizer.
Raquel
1 comentário:
É um texto extraordinario...de uma enorme magnitude, deveras poderoso.
Estes são aqueles momentos em que eu além de ser um dos fundadores do blog, sou também um dos seus leitores mais fiés.
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