terça-feira, 7 de agosto de 2007

Na Procissão

Trazias um vestido preto com sinais de tempo.
O teu vestido preto era o fecho antigo ao longo das tuas costas.

Eu ia atrás de ti.

O tempo era o teu cabelo branco caído sobre o vestido.
O teu cabelo branco apanhado num dos lados por um travessão de prata.
O travessão de prata com brilhantes que desenhavam flores.
O teu travessão.
O teu travessão desenhava malmequeres de prata.
O teu cabelo branco era prata em malmequeres, porque os meus olhos viram.

Eu ia atrás de ti.

Trazias um vestido preto com sinais de tempo.
O teu vestido preto era o dia em que tiveste de fazer o teu vestido preto.
O dia era o instante que não consegues esquecer.
O instante era o momento da fragilidade.
Da fragilidade
Da dor
Sepultada no peito.

Eu ia atrás de ti. E nunca te vi o rosto, viúva.

Raquel

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