quinta-feira, 13 de março de 2008

Lembras-te do teu nome?

Lembras-te do teu nome?
E das manhãs frias feitas de vento em que acordas tão só?
Eu não sei o teu caminho
Mas a tua vida tem cruzado estacas no meu a cada passo que dou,
A cada passo que dás.
E encontrar-te são nuvens de pó a desfazerem-se num grito
Como a noite.

Tão frias as manhãs do nosso encontro.
Feitas de flores orvalhadas pela voz de quem tu ouves.
E é tão grande o teu silêncio.
E é tão grande o teu olhar.
Perante a cruz.

Vens ainda contra o tempo.
Arrastas-te imponente sobre os dias
E trazes nas mãos os dedos que carregaste toda a vida.
Sabes tão bem o que suportam as mãos,
Que o esquecimento não apaga as lembranças
Dos teus dedos quando se dão.

Quantas mãos já foram tuas?

Num instante de lágrimas que não posso contar
Que não consigo contar,
As minhas mãos já foram tuas.
E nesse instante tu eras o silêncio de ternura num olhar.
Que eu jamais esquecerei.
Como o peso da lembrança desse dia, que carrego em mim como um caixão, e que não posso contar, que não consigo contar.

Trazias a aragem fria e húmida da madrugada nos cabelos
E o teu travessão de malmequeres de prata.
Vinhas, com o peso da velhice, ver a morte.
E encontraste-me a mim – vida e força a desfalecer na dor
no meu mundo todo a ruir em brasa,
Que o instante dos teus dedos nos meus segurou.

Na manhã mais triste de todas as manhãs do nosso encontro.
Eras tu, a meu lado, perante a cruz,
Eras tu, nome do meu nome,

Júlia.

Raquel